Filhos saem de casa- o Ninho Vazio – Maio 2020

01 de Maio de 2020

O que é o síndrome do ninho vazio?

É um estado emocional que alguns pais sentem, caracterizado por sentimentos de solidão, tristeza, vazio, por vezes até angústia e depressão, devido à saída de casa dos filhos (as), pela primeira vez, por irem estudar ou trabalhar fora de casa. Surge porque alguns pais têm a sua vida muito centrada na educação dos filhos e lidam mal com a mudança ou com a ideia de separação dos filhos, sentindo que o seu propósito de vida se desvaneceu e que há uma perda afectiva importante nas suas vidas.

Os principais sinais são a sensação de vazio e de perda, tristeza, saudades do (s) filho (s), preocupação excessiva sobre a segurança do filho, vontade de chorar, pensamentos negativos, auto- crítica, menor vontade de fazer atividades que dão prazer, menor vontade de socializar, pensar que a vida não tem sentido, sentir-se inútil e incompleto.

Existem diferenças entre os sinais de ninho vazio e a depressão? Na depressão existem sintomas mais fortes, debilitantes e persistentes ao longo de vários meses e uma visão negativa de si próprio e do mundo, falta de esperança, falta de energia e motivação, no ninho vazio os sintomas são menos intensos e circunscritos à saída do filhos, pelo que são mais fáceis de ultrapassar. Apesar de muitos pais ultrapassarem a situação, alguns estudos fazem uma correlação forte entre a saída dos filhos e um quadro de depressão, em especial com as mães,  pelo que é muito importante que os pais tenham estratégias para manter uma vida positiva e com sentido, como desenvolverem outros projetos e atividades.  

As relações entre pais e filhos vão-se transformando ao longo da vida , é o ciclo habitual, estes laços podem ser menos intensos e diferentes, com saída do (s) filho (s), mas as relações mantêm-se de outra forma, pois os filhos naturalmente vão seguir as suas vidas; podem dar um apoio mútuo e até inverterem os papéis, em que os filhos apoiam mais os pais, mas o importante é que os pais reconstruam uma vida diferente e aproveitar o tempo mais livre para aquilo que gostam de fazer.


Como se podem ressalvar estas relações? Mantendo um contato diferente, menos presente, mas com mais maturidade emocional, como por exemplo, os pais experientes em certos assuntos apoiarem os filhos em dúvidas profissionais que possam ter , ou filhos convidarem os pais para almoçar, combinarem tarefas que possam ajudar os pais, como arrumações ou mudanças, ou se viverem longe, comunicar através da internet ou verem-se no skype, encontrarem-se nas alturas festivas, comunicarem com alguma regularidade sobre aspectos bons e menos bons, quando quando existe alguma dificuldade ( e não de uma forma tão persistente como quando os filhos viviam com os pais).

Para alguns pais, poderá existir uma certa crise de identidade, pois tinham vidas tão centradas nos filhos, na qual a sua identidade quase se fundia com eles, enquanto que os pais que mantêm uma vida preenchida com outras actividades, interesses e relações sociais, para além dos filhos, irão sentir menos o ninho vazio. A identidade deve ser composta por diversos papéis e projectos, mas quando só existe o projecto de educar os filhos, poderá dar a sensação que a identidade desapareceu, pois era o grande investimento das suas vidas; se este projecto é concluído pode-se colocar em casa o “quem sou eu agora?”, pelo que estes pais poderão reaprender a olhar para si próprios, sobre o que lhes dá prazer e reforçar outras relações sociais.


Quando os pais começam a sentir este “ninho vazio”? Muitos dos pais só começam a sentir um vazio alguns meses após a ausência dos filhos. O impacto emocional e social depende mais da intensidade e da força da vinculação com que os pais estavam ligados aos filhos, e em que medida a vida dos pais estava preenchida com a educação dos filhos. Quanto mais os pais viviam para tratar dos filhos, maior poderá ser o impacto na vida dos pais. Poderá surgir mais em mulheres que ao início apresentam alguns sintomas de depressão, mas com algum tempo poderão concluir que a origem é devido à saída dos filhos, por serem tradicionalmente as que estão mais tempo a casa a cuidar dos filhos e que mais vão sentir a perda e a dificuldade em ocupar e preencher as suas vidas com outros propósitos. Este impacto poderá ser mais fácil na saída do segundo filho, pois já existe a experiência da situação. Mas também há pais cuja vida até melhora com a saída dos filhos e que se sentem mais felizes pois ocupam melhor o tempo livre. Poderá ser mais difícil em pais com filho único, pois muitos pais dedicaram-se mais a ele (a).


A importância de preparar-se para lidar com a ausência ou saída de um filho de casa

O importante é que os pais se sintam conectados a outras pessoas e experiências na altura em que os filhos saem de casa. Não diria um tempo específico, mas o tempo necessário para os pais sentirem que a vida não acaba com a saída dos filhos, é preciso que sintam que a vida é composta por vários interesses e terão bastante para aproveitar a liberdade, com o tempo mais livre sem os filhos em casa. Esta preparação pode ser feita alguns anos antes da saída, para dar tempo aos pais de se preencherem emocionalmente com outros propósitos.

Estratégias práticas para lidar com o síndroma do ninho vazio

– Mantenha-se ocupado! Descubra o que o (a) faz feliz, desde danças de salão, hidroginástica, ou aprender na universidade sénior, fazer trabalho de voluntariado, fazer jardinagem, e viajar. Há muito por onde ocupar a maior liberdade.

– Reconectar-se com antigos amigos, familiares ou até à comunidade. Possivelmente terá amizades antigas com as quais gostava de continuar e desenvolver amizade, ou até fazer parte de grupos  ou associações, por interesses que possua, por xemplo gostar de cantar e fazer parte de um coro ou de um grupo de voluntariado que apoia um causa com a qual gostaria de ajudar.

– Gerir bem as emoções: Deixar sentir as emoções mais negativas e aceitar que elas irão passar; reconhecer que é uma fase natural e positiva da vida de família e dos filhos, pois significa que os pais desempenharam o seu papel e os filhos estão a criar autonomia emocional e material, em relação aos pais. Compreender que as emoções negativas são apenas um sinal de uma mudança, de transformação, mas que podem ser transformadas , criando outras ocupações, hobbies, propósitos e objetivos na vida.

– Procurar novas oportunidades na vida pessoal e profissional. Pode iniciar um curso que há muito adiava fazer, ser voluntário ou até envolver-se mais activamente  na vida da comunidade.  Pode aprender novos papéis em várias situações, o que ajuda a sentir que está a ser útil para uma causa.

– Reconectar-se com o seu parceiro (A). Alguns casais podem descobrir que podem fazer mais coisas em conjunto, redescobrindo até um pouco do romance que estava esquecido num fim-de-semana ou saírem mais vezes com amigos .


Podem reaprender a viver e a construir novas rotinas– experimentem conversar em conjunto sobre o que sentem na situação e sobre o impacto que a saída dos filhos teve na vida de cada um. Procurem descobrir em conjunto novos papeis e interesses para preencher o vazio ou ampliar aqueles que já existem. Procurem hobbies que possam fazer em conjunto como fazer aulas de música ou desportivas ou procurarem grupos de pessoas na comunidade em que ambos gostassem de colaborar. Podem avivar a relação, programando saídas românticas, até reaprender a namorar.

Como pode cada pai e mãe fazer para ocupar o tempo?

Para cada um é bom que aumentem o auto- conhecimento, de forma a que respondam às questões “o que me faria mais feliz? O que gostava de aprender? O que gostava de atingir no meu tempo livre? Quais são os meus valores na vida? O que me fez sentir auto- realizado no passado?

Quanto melhor for este auto- conhecimento, maior a satisfação com a forma de ocupar o tempo; algumas pessoas realizam-se mais pelo amor ao conhecimento e inscrevem-se em universidades seniors; outras dedicam-se ao desporto, outras em associações de caridade…

(este artigo foi publicado na Revista Prevenir em Março de 2020)

Para saber mais: