Psicoterapia Afirmativa para Gays e Lésbicas- Uma forma de afirmar a identidade positivamente e de aumentar a auto- estima

O que é esta terapia?

A Psicoterapia Afirmativa para gays e lésbicas, que realizamos, tem o objectivo de dotar o cliente com uma visão positiva de si próprio, de conseguir a sua auto-aceitação e o aumento da auto- estima através de um conjunto de intervenções psicológicas. Apoia os clientes no processo de definição pessoal da sua orientação sexual. 

Esta psicoterapia apoia-se num conjunto de princípios que deverão estar presentes na prática terapêutica com clientes homossexuais, com o objectivo  de ajudar a aceitar a sua orientação sexual.  Nesta perspectiva, a razão de alguém homossexual não se sentir bem e confortável com a sua orientação tem a ver com o preconceito e a discriminação que receberam da sociedade.

Na terapia procura-se re- estruturar um conjunto de crenças negativas associadas à homossexualidade. Por exemplo, se alguém homossexual interioriza a crença de que não é possível ter uma relação intima estável, é mais provável que não consiga construir uma relação (devido à crença em si e não às possibilidades reais).

Os homossexuais que internalizam os valores sociais sobre a centralidade da família (heterossexual) para atingir a intimidade e felicidade, estão, pelos padrões sociais, destinados ao fracasso, (Meyer & Dean, 1998), pois acreditam que a felicidade só estará ao alcance desse tipo de família.

Outro exemplo frequente é alguém interiorizar a crença de que é menos válido como pessoa (“ou menos homem”) se for homossexual, o que conduz frequentemente a sentimentos de inferioridade, conflitos e baixa auto-estima (Myer & Dean, 1998). Este é um exemplo de uma crença disfuncional, sem fundamento, mas que pode ter um impacto negativo na saúde mental. Muitos outros exemplos de crenças negativas poderiam ser encontradas.

Este modelo de terapia  tem, também, uma componente educativa, pois é importante esclarecer um conjunto de informações erróneas transmitidas culturalmente, relacionadas com a homossexualidade, onde no séc. XXI, em Portugal, ainda nem sequer existe educação sexual no sistema de ensino ou de uma forma pouco sistemática.

Todavia, uma boa parte desta intervenção destina-se a modificar esquemas negativos de pensamento relacionados com a orientação sexual e na desconstrução (desmontagem) de muitos preconceitos. É importante o conhecimento de informação científica para a desmontagem de mitos e estereótipos, para construção de uma atitude positiva face à homossexualidade.

Estas formas de pensamento estão muitas vezes muito enraizadas e podem-se manifestar subtilmente (estar pouco à vontade com heterossexuais, negar ou tentar mudar a sua orientação sexual, vergonha, depressão, casar para tentar mudar a orientação sexual, etc.).

Também é feita uma avaliação do grau de homofobia internalizada, através da análise das crenças e das atitudes face à homossexualidade, o que dá informação para ser trabalhada através da terapia.

Muitas investigações provam que o preconceito negativo que os homossexuais receberam da sociedade e que internalizaram, está ligado a um conjunto de perturbações psicológicas como a depressão, baixa auto-estima (“eu não presto, “eu não sirvo enquanto homossexual”), solidão e mesmo em último caso, o suicídio.

A terapia afirmativa visa reverter e prevenir estas consequências, por vezes graves, da homofobia internalizada, contribuindo para a (re) construção de uma identidade positiva e integrada, desenvolvendo a auto- aceitação.

O objectivo principal é ajudar os clientes a entender que a sua orientação sexual não é o problema, mas sim o preconceito social  no meio do qual o sujeito vive. 

Porquê este tipo de intervenção psicológica para homossexuais?

Uma das  questões centrais, vivida por muitos gays e lésbicas é o conflito ou desconforto com sua orientação sexual, a dúvida e o questionamento sobre as suas implicações. É algo que pode ser vivido com sofrimento, pois envolve a auto- imagem do indivíduo e o lidar com as pressões que  enfrenta ou enfrentará para afirmar sua identidade. São crises vividas por indefinição da orientação sexual, por quem teme o que acontecerá com a revelação de sua orientação ou por quem assumiu uma orientação e passa por situações problemáticas por isso.

Os medos relacionados com a identidade sexual podem estar relacionados com a vulnerabilidade à discriminação, violência, hostilização pelos outros ou o receio de perdas pessoais possíveis (na família, entre amigos, no trabalho, na comunidade religiosa).

Além disso, os estereótipos ou as experiências do cliente a esse respeito podem ser negativos e influenciar a sua situação de crise, como por exemplo percepcionar o estilo de vida homossexual como indesejado ou promíscuo. Para pessoas religiosas (católicos, protestantes, evangélicos, etc) há a  questão religiosa envolvida associado a um grande medo da reacção familiar e/ou da comunidade.

Muitos gays e lésbicas podem sentir-se culpados em relação à sua identidade ou ter ódio de si mesmo. Existe uma maior complexidade quando o cliente vem de grupos raciais ou étnicos específicos, pois existem variações culturais, como normas, valores e crenças que podem ser importantes fontes de stress psicológico. A idade do cliente também é um factor do qual podem emergir diferentes questões. Mas independentemente do conteúdo da psicoterapia, a nossa posição é sempre de cooperação, respeito e aceitação. (inspirado nas recomendações da American Psychologycal Association)

Que competências específicas deve ter o Psicólogo para esta intervenção?

Alguns psicólogos acreditam que não existe diferença entre a psicoterapia dada para gays e lésbicas e clientes heterossexuais. Provavelmente, eles esquecem-se das complexidades e das questões específicas decorrentes da vivência numa sociedade que (ainda) é heterossexista e muitas vezes homofóbica. 

Há factores de stresse psicológico vulgarmente sentidos por homossexuais e que certamente não estarão presentes noutras orientações sexuais: o medo de a sua orientação ser descoberta, necessidade de esconder e inibir sentimentos homossexuais, preocupação em esconder a identidade em situações sociais, sentimento de isolamento social na construção da sua identidade (“devo ser único no mundo; não conheço ninguém como eu”), sentimento de culpa (“isto é um vício; “não sou normal”), viver na expectativa da rejeição de familiares e amigos e no caso dos jovens, o insucesso escolar ou abandono escolar (onde muitas vezes a razão de faltar às aulas tem a ver com o medo de serem humilhados, gozados ou pressionados por colegas), etc.

Para um apoio efectivo, é fundamental  ter um conhecimento das questões específicas desta população, do contexto em que vive, compreender o processo de “coming out” e de formação da identidade, para além de conhecer diferentes intervenções para pessoas que estão a sofrer com a sua sexualidade e para pessoas que se sentem confortáveis com a sua orientação sexual.

Deve possuir estratégias que ensinem gays e lésbicas a lidar com as dificuldades que possam sentir no relacionamento com a família, amigos, colegas de trabalho e em muitas outras situações do quotidiano.

Finalmente, deve providenciar um ambiente seguro e confortável que facilite uma psicoterapia afirmativa e a expressão genuína de emoções e sentimentos de parte destes clientes. O ambiente psicológico adequado inclui os valores, atitudes, crenças, e comportamentos que são transmitidos aos clientes através da comunicação verbal e não- verbal do psicólogo. 

A mudança psicológica é sempre possível, e apesar das eventuais adversidades sociais, é perfeitamente realista uma vivência com uma boa integração da orientação sexual nos múltiplos aspectos da personalidade.

O objectivo da psicoterapia é a mudança psicológica, para alcançar um elevado bem estar, uma boa relação consigo próprio e com os outros e uma elevada auto- estima e auto- conceito. Se sente dificuldades persistentes e desconforto com a orientação sexual, poderá beneficiar muito com a nossa intervenção psicológica.

A nossa perspectiva positiva, de aceitação e respeito incondicional das diferentes orientações sexuais e dos diversos estilos de vida, proporcionam um contexto propício e a base de mudança segura, conjuntamente com uma série de princípios de intervenção, técnicas e estratégias. Consulte-nos.

Algumas definições

Orientação Sexual- Refere-se às diferentes possibilidades de atracção emocional e sexual. Pode ser dirigida  a pessoas do mesmo sexo (homossexual), a pessoas de ambos os sexos (bisexual) ou a pessoas do sexo diferente ao seu (heterossexual). A orientação sexual não envolve apenas comportamentos sexuais, envolve também os desejos, fantasias e atracção. 

Heterossexismo- Ideologia que incluiu  a crença cultural de que todas as pessoas são ou deveriam ser heterossexuais; é a crença de que a heterossexualidade é o único modelo “normal” ou “ideal” para relações românticas ou sexuais, o que pode ser usado para ignorar ou desvalorizar a experiência de gays e lésbicas na sociedade (Iasenza, 1989). É um sistema de crenças culturais, de valores e de hábitos que exalta a heterossexualidade e critica e estigmatiza qualquer forma não heterossexual de comportamento ou identidade (Bem, 1993). Sistema ideológico que nega, denigre e estigmatiza qualquer forma não heterossexual de comportamento, identidade, relação ou comunidade (Herek, 1990). É importante ter consciência da influência subtil e persuasiva do heterossexismo. Pode-se infiltrar em qualquer aspecto da cultura. Se um terapeuta perguntar “É casado?” , o cliente gay/ lésbica pode perceber uma falta de sensibilidade e uma desvalorização das relações entre géneros iguais. 

Na realidade, o valor das pessoas é o mesmo, qualquer que seja a sua orientação sexual, pois não existem diferenças no funcionamento psicológico ou qualquer outra diferença significativa.

Homofobia- Enquanto o heterossexismo negligencia ou omite, a homofobia é um medo irracional ou ódio em relação a gays e lésbicas (Fassinger, 1991). Porque todos nós estamos condicionados em relação a formas tradicionais da sexualidade, a homofobia não é facilmente detectada. Por vezes, gays e lésbicas internalizam a homofobia pela interiorização de crenças sociais, sentido-se desconfortáveis em relação à sua orientação sexual, desenvolvendo uma “vergonha” em relação à atracção por pessoas do mesmo género. Esta situação é possível de ser ultrapassada com a terapia afirmativa, tendo em vista a criação de uma imagem positiva de si próprio enquanto gay/lésbica, desenvolvendo um auto- conceito e auto- estima elevados.

De acordo com Warren Blumenfeld (1992), a homofobia é um problema social que afecta todas as pessoas, independentemente da orientação sexual.

Desenvolvimento da Identidade- Processo social dinâmico que as pessoas atravessam, passando por uma variedade de estádios e sequências, no sentido de uma auto- definição aceitável. (Weinberg,1983) O processo de desenvolvimento da identidade é motivado por um desejo de congruência sobre a nossa percepção de uma característica (incluíndo a orientação sexual) , o comportamento que resulta deste traço e a visão das outras pessoas em relação à característica. 

Desenvolvimento Identitário nos Jovens e Adolescentes- Poderá ser um processo especialmente difícil e doloroso, para ultrapassar o stress relacionado com a gestão da sua identidade sexual, conflitos com os pares, medo das reacções da família e dos amigos, solidão, doenças sexualmente transmissíveis, o eventual estigma implicado nos contextos sociais, etc. 

Para mais informações, ver também:

Consequências do preconceito social exercido contra gays,  lésbicas e bissexuais- repercussões psicológicas.

A Orientação Sexual

Bibliografia Consultada (principal) :

Blumenfeld, Warren J. (Ed.). (1992). Homophobia: How we all pay the Price: Boston: Beacon Press.

Coleman, E. (1987). Psychotherapy with homosexual men and women: Integrated identity approaches for clinical practice. New York: Haworth

Herek, G.M.”Psychological heterosexism in the United States.” In Lesbian, Gay, and Bisexual Identities over the Lifespan: Psychological Perspectives, A.R. D’Augelli and C. J. Patterson, eds. (pp.321-436). New York: Oxford University Press. 1995. 

Última Actualização: 04/04/2019