Sinais e Sintomas

A fobia ou ansiedade social pode ser caracterizada pelo medo, nervosismo ou apreensão que algumas pessoas sentem na interacção com outras pessoas. A ansiedade social inibe e constrange, porque há a sensação de que pode haver algo humilhante ou embaraçoso durante o contacto social.

A Fobia ou ansiedade social  é um problema comum na consulta psicológica. Numa sociedade exigente, competitiva e individualista, onde os contactos sociais tendem a ser mais reduzidos, quer seja pelo uso intensivo do automóvel, o viver em apartamentos, em grandes cidades e ter actividades que desfavorecem os contactos entre as pessoas (telemóveis, internet, videojogos, …) não é de espantar que cada vez mais pessoas sintam uma ansiedade excessiva e desproporcional aquando das interacções sociais. Por outro lado, as pessoas estão cada vez menos envolvidas na sociedade pois fazem cada vez menos parte de associações ou coletividades. Hoje vive-se de forma muito mais isolada socialmente do que há décadas atrás.

Com frequência, há pensamentos mais ou menos vagos que traduzem a ideia de que os outros vão fazer julgamentos, devido a algo que se possa fazer ou dizer. Nestas circunstâncias, as conversas são desconfortáveis, porque há o receio de revelar alguma inadequação ou limitação ou de que os outros vão perceber que a cara fica corada… Por vezes estas situações sociais são vividas de modo doloroso: é sentir que os outros vão desaprovar, ignorar, criticar ou mesmo rejeitar por não ter um comportamento mais aceitável.

Isto torna a relação com os outros numa coisa difícil e dura, evitando fazer amigos ou contactos. Muitas vezes, isto leva ao isolamento social e à solidão, evitando que se crie intimidade com outras pessoas ou mesmo encontrar uma pessoa com quem partilhar a vida.

As pessoas com ansiedade social não sentem facilidade no trato com os outros, inibindo a expressão das suas qualidades positivas, podendo até perder a confiança nas suas virtudes. É compreensível sentirmos um vez ou outra ansiedade social, mas é importante ter uma ideia mais clara de que quando isto se torna um problema que exige mudança e que interfere negativamente na nossa vida.

Quando isto se torna um problema…

A Fobia Social é definida segundo vários critérios, segundo o manual da Associação Americana de Psiquiatria, no DSM- IV:

– Um medo marcante e persistente de uma (ou várias) situação (ões) social (ais) ou de desempenho, em que a pessoa se sente exposta a desconhecidos ou a um possível escrutínio ou avaliação dos outros. Há um temor em relação a uma série de situações sociais e o indivíduo acredita que pode ser humilhado ou constrangido por um desempenho inadequado  ou por mostrar sinais de ansiedade que os outros irão perceber (corar, enrubescer, tremer com as mãos, etc).

Pode haver uma grande ansiedade perante circunstâncias nas quais o seu comportamento poderá ser afectado por um pequeno tremor ou falta de concentração (p. ex. beber, comer, escrever e falar diante dos outros).

Assim, o fóbico social preocupa-se muito com as pessoas que possam ver os seus sintomas de ansiedade, e devido a isto, ser avaliado negativamente. Apesar disto, desejam ter contactos sociais, mas têm um grande temor em relação a essas situações. Apesar disto, o indivíduo reconhece que o seu medo é excessivo ou irracional, mas acaba por evitar certas situações sociais: a ansiedade acaba por interferir significativamente com as rotinas ou na vida do indivíduo. É frequente uma preocupação com situações sociais que possam acontecer no futuro: é a antecipação, com ansiedade, sobre aquilo que pode vir a acontecer, em termos de desempenho social.

A Fobia Social pode ser específica ou generalizada: Se o indivíduo sente medo num grande conjunto de situações sociais, pode tratar-se de Fobia Social Generalizada. Se a ansiedade social está limitada ou circunscrita a uma situação (por exemplo, comer ou beber em público, assinar em frente a outras pessoas), pode tratar-se de Fobia Social Específica.

Os três componentes da Ansiedade Social

A Fobia Social pode ser caracterizada segundo 3 componentes, que são aquilo que as pessoas sentem, pensam e fazem. Existem, portanto, sintomas físicos, sintomas cognitivos (os pensamentos) e sintomas comportamentais.

– Alguns exemplos de sensações físicas, típicas da Fobia Social: Palpitações ou sentir o coração a bater depressa, alta de ar ou respiração rápida, tonturas, dificuldade em engolir ou de garganta seca, tremer as mãos, palmas dos pés e das mãos transpiradas, náusea ou diarreia ou “borboletas” no estômago, riso nervoso, dificuldade de concentração, músculos tensos.

– Exemplos de Interpretações ou pensamentos ansiosos, nas situações sociais: “É importante causar uma boa impressão”, ” Vou fazer uma figura ridícula”, ” Se fizer um erro, as pessoas vão-se rir de mim”, ” As pessoas acham-me desinteressante”, ” A ansiedade é um sinal de fraqueza”, ” Eu não posso mostrar que estou com medo”, ” Se tremer, as pessoas vão achar que sou um anormal”, ” Tenho de dizer algo de interessante, senão vão-me achar um chato”…

– Exemplos de comportamentos relacionados com a Fobia Social: recusar um convite para sair ou para uma festa com amigos, inventar uma desculpa para não estar com desconhecidos, chegar tarde a um encontro para não ter de fazer conversa, evitar contacto ocular ou falar baixo em frente aos outros, maquilhar a cara para disfarçar o corar, chegar cedo a uma sala para os outros não repararem e para se sentar na cadeira do fundo, beber álcool antes de um encontro, para relaxar…

Existem algumas situações habitualmente temidas pelos fóbicos sociais:

– Falar em público: é o medo mais comum de todos. Pode mesmo interferir com as funções de trabalho, as relações com a família ou mesmo a participação em qualquer grupo ou associação, pela antecipação de que esta situação pode vir a acontecer.

– Medo do palco: profissionais que trabalham com audiências, como actores ou músicos, que ficam ansiosos antes ou durante uma actuação, devido a preocupações de cometerem um erro ou de que os outros percebam a sua ansiedade.

– Medo das figuras de autoridade: o medo é relativo a uma pessoa, que é interpretada como poderosa. Pode incluir o chefe, um familiar ou mesmo um professor ou padre. Há uma excessiva preocupação em fazer um simples pedido e assume que vai falhar ou ser humilhado publicamente.

– Comer e beber: Para alguns fóbicos, o acto de beber ou comer em frente aos outros é interpretado como se estivesse a ser observado por milhares de pessoas. O medo principal é de tremer ou deixar cair alguma parte da bebida ou comida e de que os outros vão perceber isto e achar que ele está louco.

– Escrever em Público: tal como no exemplo anterior, neste caso, o indivíduo acredita que ao escrever vai tremer com as mãos e que os outros vão reparar e depois vão pensar em coisas negativas acerca dele.

– Encontros: Há um medo de marcar encontros com outras pessoas por medo da rejeição ou de causar uma impressão negativa. Pode limitar a vida emocional ou sexual.

– Casas de banho públicas: O entrar numa casa de banho público provoca uma resposta de ansiedade ao ponto de inibir ou dificultar o urinar. Há a preocupação de outros vão reparar que ele não está a urinar e que estão a querer saber porquê.

– Fazer um teste: Para o fóbico social, o fazer um teste representa um acto de exposição pública. O medo comum é que o que quer que produza ou faça, os resultados do teste vão ser inaceitáveis ou inadequados para os outros.

– Revelar sintomas de ansiedade: Aqui inclui-se o medo de transpirar, corar, tremer, ter problemas na voz como gaguejar ou vomitar em público. O medo é de que as pessoas vão reparar e descobrir o sintoma e de que o indivíduo está mal ou que é estranho ou anormal. O medo de mostrar este sintoma de ansiedade aumenta a atenção e a vigilância em relação ao próprio sintoma ou a qualquer outro pequeno sinal, o que aumenta o medo, tornando-se um ciclo vicioso.

– Encontros Sociais: É sentir medo e ansiedade em relação à maioria das situações sociais, pois acreditam que o seu desempenho vai estar abaixo das expectativas dos outros.

Sim, existe tratamento eficaz!

A Associação Americana de Psicologia recomenda a terapia cognitivo- comportamental no tratamento da Fobia Social e que realizamos no nosso consultório. A sua eficácia tem sido demonstrada em muitos estudos científicos. Além disso, os  benefícios obtidos através da  terapia são mantidos ao longo do tempo.

Existem múltiplas causas para o surgimento da fobia social: experiências de vida, factores genéticos e desenvolvimento psicológico precoce, experiências traumáticas condicionadoras, familiares com transtorno de ansiedade…  A combinação destes factores provavelmente condicionará o início do transtorno.

Muitas vezes a Fobia Social é confundida com a timidez. Devido a isto, é frequentemente minimizado o sofrimento que existe nas pessoas com este transtorno, pois ele é bastante comum. Mas se uma situação muito simples de interacção social provoca um medo intenso, um “terror esmagador” e o seu evitamento, poderemos estar a falar de uma situação de fobia social.

Nas suas formas mais graves, este problema pode ser incapacitante e ter efeitos devastadores na vida das pessoas. Pode implicar desistir de um emprego devido ao terror de que, por exemplo, possíveis contactos sociais teriam de ser realizados nesse mesmo emprego. O fóbico pode recusar um emprego com melhor remuneração, porque esta nova situação poderá implicar muitos contactos inter- pessoais, mesmo tendo todas as habilitações académicas e profissionais para o seu desempenho.

De acordo com a teoria de Beck e Emery, estes indivíduos vêem “o mundo como um lugar perigoso”, no qual deve estar constantemente alerta contra uma ameaça potencial.

O tratamento e duração da terapia psicológica depende de cada caso, principalmente das estruturas de pensamento específicas desenvolvidas. Pretende-se, entre outros aspectos, modificar erros lógicos no pensamento, como uma hipersensibilidade e hipervigilância de possíveis sinais que mostrem uma avaliação negativa pelos outros.

A terapia psicológica

O indivíduo com ansiedade social, quando confrontado com outra (s) pessoa (s) , forma uma imagem mental de como se apresenta para a “audiência”. Esta imagem é distorcida porque a visão da situação é orientada por ideias negativas sistemáticas, por exemplo sobre como é que aparece para os outros, preocupação com qualquer detalhe de si que possa despertar uma reacção negativa dos outros, auto rotulação (“pareço um pateta, vão me gozar, não consigo falar direito, sou feio e desajeitado”), etc.

Outra característica da ansiedade social é a alta consciência e vigilância em relação a qualquer sinal do corpo ou do seu comportamento que possa confirmar as suas expectativas negativas (“tremer com a mão”). O indivíduo também se compara e avalia com aquilo que julga ser o “padrão” da “audiência”. Frequentemente avalia o padrão (“formação dos outros indivíduos, aspecto físico, facilidade de comunicação e descontracção dos outros”, etc ). Como parte de ideias negativas de si próprio, este indivíduo, em muitas circunstâncias, vai acreditar que falha as expectativas da audiência. Estas percepções levam a sintomas físicos e psicológicos (ansiedade), que por sua vez reforçam e mantêm as crenças negativas.

Faça a sua Auto- Avaliação

Para conhecer melhor o tipo de pensamentos que existem na ansiedade social, pode responder às questões da  Escala de Avaliação do Medo da Negativa- Forma Breve. Cada item do questionário é uma declaração sobre algum aspecto da ansiedade social. Se a escolha for difícil, será solicitado a escolher a resposta que é ligeiramente mais aplicável, com base em como se sente no momento. Também é solicitado que responda com base na sua primeira reação e não gaste muito tempo em nenhum item.

Leia cada uma das seguintes frases  e indique o quanto é característico em si,  de acordo com o seguinte escala:

1 = Nenhuma característica minha 2 = Ligeiramente característico de mim 3 = Moderadamente característico de mim 4 = Muito característico de mim 5 = Extremamente característico de mim

1. Preocupo-me com o que as outras pessoas pensam de mim, mesmo quando sei que isso não faz nenhuma diferença. ___

2. Estou despreocupado, mesmo sabendo que as pessoas estão a  dar-me uma impressão desfavorável. ___

3. Frequentemente, tenho medo que outras pessoas notem os meus defeitos. ___

4. Raramente me preocupo com o tipo de impressão que estou a causar em alguém. ___

5. Receio que os outros não me aceitem. ___

6. Receio que as pessoas encontrem falhas em mim. ____

7. As opiniões de outras pessoas sobre mim não me incomodam. ____

8. Quando estou a conversar com alguém, preocupo-me com o possam estar a pensar sobre mim. ___

9. Normalmente, estou preocupado com o tipo de impressão que causo. ____

10. Se eu sei que alguém está a julgar-me, isso tem pouco efeito sobre mim. ___

11. Às vezes, acho que estou muito preocupado com o que as outras pessoas pensam de mim. ___

12. Muitas vezes preocupo-me  em dizer ou fazer as coisas erradas. ____

Terapia Cognitiva

Ultrapassar a Ansiedade Social com Terapia Cognitiva- Comportamental

Na terapia cognitiva que praticamos, irá aprender a:

Identificar padrões de pensamento, regras, e crenças negativas em situações sociais e com outras pessoas, Crenças negativas de si próprio, Crenças/ expectativas  negativas sobre o que vai acontecer nas situações sociais.

Aprender a corrigir os erros de pensamento que se tornaram hábitos de pensar nas situações (ex: não tolerar erros socias, avaliar de forma negativa a própria ansiedade ou exigir um comportamento perfeito em todas as situações sociais e querer a aprovação de toda a gente). Aprender a interpretar de uma forma mais eficaz as situações.

– Aprender a gerir as emoções negativas (principalmente a ansiedade, vergonha, culpa e embaraço) e transforma-las em emoções úteis e motivantes.

– Aprender a relaxar e a aceitar as emoções, para que estas possam “evaporar”. Com a ansiedade social, as pessoas tornam-se muito centradas na própria ansiedade, ficando muito preocupadas com os sintomas que vão transparecer para os outros. As técnicas de aceitação são “activas” e visam libertar as emoções negativas.

– Aprender técnicas de aceitação plena e de imperfecionismo eficaz. Com a ansiedade, as pessoas ficam muito preocupadas em terem um desempenho social “perfeito”, mas este imperativo em geral apenas as torna mais ansiosas e propensas a serem menos eficazes socialmente.

– Aprender técnicas de assertividade, de expressão social e auto-afirmação.

– Aplicar gradualmente as técnicas em situações reais do dia-a-dia.

Efeitos da Ansiedade

A ansiedade pode criar uma exigência ou expectativa de encontrar uma solução perfeita para a timidez; é preciso aceitar que estas mudanças são graduais e relativamente lentas no tempo. Se está a exigir uma mudança grande numa consulta, isso vai desmotiva-lo ou até desistir. Por outro lado, mesmo as pessoas extrovertidas sentem ansiedade social em maior ou menor grau, mas não se estão a auto- avaliar por isso.

Alguns dos objectivos do tratamento são eliminar este ciclo vicioso que mantêm a ansiedade social, desenvolver um auto- conceito realista e positivo de si próprio e nas situações sociais, aprender a comunicar  mais eficazmente, obter relaxamento em situações sociais, bem como outros objectivos definidos segundo cada caso.

Se considera que tem sintomas de Fobia/ Ansiedade Social que estão a interferir de maneira significativa na sua vida pessoal e profissional, marque a sua consulta.

Os medicamentos usados para a fobia social tendem a perder os seus efeitos logo que deixam de ser tomados, além de poderem provocar efeitos secundários e interagir com outros medicamentos.

Apesar de a curto prazo, os medicamentos serem mais baratos que a psicoterapia, a longo prazo esta é mais económica porque os seus resultados tendem a persistir com o tempo (com as modificações nas crenças e nos comportamentos).

Poderá responder à seguinte escala, para caracterizar de alguma forma os seus comportamentos.

Atenção! Esta escala não têm o poder de fazer o diagnóstico da ansiedade ou fobia social; só um psicólogo ou psiquiatra poderá avaliar devidamente cada caso.

Escala de Liebowitz de Ansiedade Social

O questionário tem 24 items, cada item consiste numa determinada situação, que deve ser classificada de 0 a 3, em termos da ansiedade que provoca e da frequência do seu evitamento. Deverá responder com base no que aconteceu recentemente, e caso a situação não tenha acontecido, deverá imaginar o que se teria passado na situação referida.

SituaçõesAnsiedadeEvitamento
Avalie para cada situação, o seu grau de ansiedade e de evitamento.  
1. Telefonar em público.  
2. Participar em pequenos grupos.  
3. Comer em locais públicos.  
4. Beber com outros em locais públicos.  
5. Falar com pessoas de autoridade.  
6. Actuar, representar ou discursar em frente a uma audiência  
7. Ir a uma festa.  
8. Trabalhar sendo observado.  
9. Escrever sendo observado  
10. Telefonar a alguém que não conhece muito bem  
11. Falar com pessoas que não conhece muito bem.  
12. Ir a reuniões com estranhos.  
13. Urinar numa casa de banho pública.  
14. Entrar numa sala onde estão outras pessoas sentadas.  
15. Ser o centro das atenções  
16. Falar numa reunião.  
17. Fazer um exame escrito.  
18. Expressar aprovação ou desaprovação de forma correcta, a pessoas que não conhece bem.  
19. Olhar nos olhos pessoas que não conhece muito bem.  
20. Fazer um relatório a um grupo.  
21. Tentar impressionar alguém do sexo que o (a) atrai  
22. Devolver um produto a uma loja que normalmente aceita produtos devolvidos.  
23. Organizar uma festa normal  
24. Resistir a um vendedor persistente.  

Total: Somar a coluna Ansiedade e Somar a coluna Evitamento

  
Total Final: Somar ambas as colunas: ________

Depois de classificar cada situação em termos de ansiedade/medo e frequência do evitamento da situação, deverá somar o total dos pontos de cada coluna e o total das duas colunas. O total de pontos das duas colunas é uma medida da intensidade da sua fobia social no momento presente:

Total:

55 a 65 : Fobia Social moderada.

66 a  80 : Fobia Social média.

81 a 95 : Fobia Social grave.

mais de 95 : Fobia Social muito grave.

Bibliografia (básica):

Barlow, D. H. (2002). Anxiety and its disorders. The nature and treatment of anxiety and panic (2nd ed.). Nova Iorque: Guilford.

PARA MAIS INFORMAÇÕES, VER TAMBÉM:

Última Actualização: 04 abr 2020