É graças à ciência que podemos viver num mundo mais seguro, no qual as pessoas vivem cada vez mais tempo e com maior qualidade. Estamos rodeados de ciência por todos os lados e não nos apercebemos disso, de tão omnipresente que ela é. Imagine o mundo sem eletricidade ou sem televisão. E ainda sem telemóveis ou computadores. E sem vacinas ou leite pasteurizado? As descobertas científicas têm permitido salvar milhões de vidas e para muitos outros milhões permitem continuar a viver, o que poderia ser impossível há décadas atrás.
Por exemplo, pensemos no caso dos antibióticos. Foi Alexander Fleming quem descobriu a primeira substância antibiótica, a penicilina , que permite tratar , por exemplo, a pneumonia, sífilis ou a gangrena. Também a psicologia fez e continua a fazer importantes descobertas para o bem-estar da humanidade. Por exemplo, o desenvolvimento de formas de tratamento eficazes para a ansiedade e depressão. Ou da importância da inteligência emocional, que conta mais do que a inteligência académica para se sentir bem na vida. Ou de como as redes sociais estão a tornar as pessoas mais infelizes. Ou a descoberta que as amizades contam mais do que qualquer outro fator para a satisfação com a vida.
A descobertas científicas são possíveis devido ao método científico, que é essencialmente testar ideias ou hipóteses com provas e evidências.
Para se chegar a uma conclusão científica, podem ser necessárias décadas de estudo, dezenas de investigadores e repetir os mesmos passos muitas vezes, para testar as hipóteses. Mas o que a ciência sabe pode ser reformulado, criticado ou até contrariado; este conhecimento é dinâmico pois está sempre sujeito a verificação. Podem surgir novas dúvidas, mesmo quando problemas antigos foram resolvidos.
A ciência é um tipo de conhecimento que procura descobrir as explicações para os fenómenos do mundo natural e do mundo social. Para tal, utiliza o método científico, que é uma metodologia objectiva para a experimentação científica. A psicologia é uma ciência que procura explicações para diversos problemas e encontrar correlações entre variáveis.
Este método tem as seguintes etapas:
- Observação e descrição do problema: “Porque as pessoas deprimem?
- Criar uma hipótese– é uma previsão que pode ser testada. Ex: “As pessoas deprimem porque pensam negativamente de si, dos outros e do futuro?”
- Testar uma hipótese. Fazer experiências para testar essa hipótese. Existem vários tipos de estudos dentro do método científico – experimentos, estudos descritivos, estudos de caso, estudos não descritivos. Numa investigação, um cientista manipula certas variáveis e mede seu efeito sobre outras variáveis num ambiente controlado. Estudos descritivos descrevem a natureza do relacionamento entre as variáveis pretendidas. Por exemplo, os pensamentos levam à emoção e depressão. As investigações podem ser feitas com grandes grupos de pessoas que respondem a perguntas sobre assuntos específicos. Estudos não descritivos usam métodos correlacionais para prever a relação entre duas (ou mais) variáveis pretendidas. Ex: “Usar um questionário e entrevistas, perguntado a pessoas deprimidas como pensam sobre si, sobre os outros e sobre o futuro”
- Tirar conclusões e aperfeiçoar a hipótese. Ex: “92% das pessoas deprimidas no estudo relatam e descrevem pensamentos negativos sobre si, sobre os outros e sobre o futuro. A hipótese é confirmada.
Mas a ciência têm ainda outros requisitos. Não basta apenas um cientista ou uma empresa defender a sua teoria e hipótese, ou o seu estudo. Os principais preceitos do método científico empregado por todas as disciplinas científicas são verificabilidade, previsibilidade, falsificabilidade.
- Verificabilidade significa que uma experiência deve ser replicável (repetida) por outro investigador. Para alcançar a verificabilidade, os cientistas devem certificar-se de documentar os seus métodos e explicar claramente como o experimento está estruturado e por que ele produz determinados resultados.
- A previsibilidade duma teoria científica implica que a teoria permite fazer previsões sobre eventos futuros. A precisão dessas previsões é uma medida da força da teoria.
- A falsificação refere-se a uma hipótese que pode ser contestada. Para que uma hipótese seja falsificável, deve ser logicamente possível fazer uma observação ou fazer um experimento físico que mostre que não há apoio para a hipótese. Para a ciência não há verdades absolutas. Todas as teorias podem ser contestadas se surgirem novos estudos e dados que contrariem as teorias existentes. Os fatos científicos devem ser sempre verificáveis.
Para determinar se uma hipótese é suportada ou não, investigadores em psicologia devem realizar testes de hipóteses com recurso à estatística. O teste de hipóteses é um tipo de estatística que determina a probabilidade de uma hipótese ser verdadeira ou falsa. Se o teste de hipóteses revelar que os resultados foram “estatisticamente significativos”, isso significa que houve apoio para a hipótese e que os cientistas podem estar moderadamente confiantes de que o seu resultado não foi devido ao acaso. Se os resultados não forem estatisticamente significativos, isso significa que a hipótese dos cientistas não foi apoiada.
Por exemplo, para a psicologia criar um método de tratamento psicológico cientificamente válido, significa que ele foi testado por vários cientistas, foi replicado outras pessoas da comunidade científica, e foi encontrada um forte correlação entre as pessoas que seguiram esse tratamento e o aplicaram na sua vida e a melhoria do problema- não foi efeito placebo!
Existe atualmente uma propagação de notícias falsas e a psicologia, como ciência também está sujeita a ser utilizada de forma enviesada. Por isso, é importante distinguir psicoterapia com base científica, testada e segura, de outras formas não científicas de psicologia que podem ser perigosas e causar dano psicológico.
Estes são alguns dos manuais científicos de tratamento que utilizamos:
Pseudociência é uma forma de informação que se diz baseada em factos científicos, mas que na realidade não utiliza o método científico. Pseudociência é uma ciência falsificada, pois não tem provas suficientes e não foi suficientemente testada. A pseudociência aceita uma verdade, mesmo sem ter provas de experiências que comprovem essa “verdade”.
Exemplo de Pseudociência na Psicologia: A grafologia é um teste psicológico que se baseia na crença de que características da personalidade vão ser reveladas na caligrafia, a forma como cada pessoa escreve. Porém foram feitos cerca de 200 estudos para testar esta hipótese e concluiu-se que a grafologia não consegue prever nenhum traço de personalidade.
Exemplo de Pseudociência na Psicologia: A lei da atração– baseia-se na crença de os pensamentos positivos atraem situações positivas para a vida de uma pessoa. Para mudar os padrões de pensamento negativo, é preciso também sentir a mudança que se deseja, como se já tivesse ocorrido. Esta junção de pensamento positivo com emoção positiva é que permitiria atrair oportunidades positivas na vida. Esta suposta “lei da atração” está supostamente sempre em funcionamento e ela traz a cada pessoa as condições nas quais ela pensa mais frequentemente, ou que mais deseja e espera. Mas esta “lei” nunca foi provada de forma científica e pode provocar importantes problemas psicológicos. Coloca um sentimento de culpa e obrigação em quem acredita nela- se algo correr mal é porque não pensou segundo a lei da atração. Ao colocar uma grande importância no pensamento, pode levar à ruminação e ao pensamento obsessivo, o que pode levar à ansiedade e depressão. Como esta teoria é aparentemente atrativa, pois sugere resultados sem trabalho- o universo vai fazer o seu papel- as suas ideias parecem tão boas e fáceis e foram divulgadas com um marketing muito forte, conseguiu seduzir muitas pessoas, apesar de falsa. Basta pedir com muita convicção ao Universo , por meio de meditação e visualização, repertir até acreditar e ficará mais próximo do que deseja.
Nota importante: Pensar não é igual à realidade; apenas por pensar muito numa coisa isso não a torna real. Também se passa o mesmo com a emoção: apenas por sentir muito que uma coisa é verdadeira, isso não a torna real. O que está dentro da nossa mente é uma coisa, o que está fora é outra. Basta verificar naquilo que já pensou e no que aconteceu. São as nossas ações , físicas, que podem fazer algo de diferente no mundo. Podemos pensar de forma optimista, e isso conduzir a mais comportamentos úteis (e isto não tem qualquer relação com a lei da atração que defende que os pensamentos se vão concretizar, se acreditar muito neles). Os rituais propostos pela “atração” pode originar transtornos obsessivos graves e deixar de fazer ações importantes e reais na sua vida, gastanto tempo e energia em “rituais”. Por outro lado, quanto mais lutar contra pensamentos negativos, mais fortes eles podem ficar. As formas científicas atuais para ultrapassar pensamentos negativos são através da terapia de aceitação e da terapia cognitiva. O dar muita importância aos pensamentos e tentar controlá-los pode conduzir a uma maior sensação de descontrolo e mais ansiedade.
Infelizmente, a psicologia é uma área que está muito sujeita a pessoas que utilizam argumentos pseudocientíficos e marketing agressivo para vender produtos e serviços sem base científica. O problema é que muitos métodos não- científicos, para além de não funcionarem, podem agravar situações já existentes ou criar outros problemas.
Então, mas qual a psicologia mais segura, em que se pode confiar?
Como em muitas outras áreas, bastantes pessoas tentam vender “serviços”, cursos ou “conselhos” da área psicológica, mas que não têm por base a ciência. Tem por base aquilo que vai ao encontro das fantasias, das ilusões, dos esteriótipos, como a lei da atração, ou seja, aquilo que vende. Portanto, a Psicologia mais “segura” e confiável é aquela que foi testada por vários cientistas, psicólogos, num grande número de pessoas. Os tratamentos empíricamente validados são técnicas terapêuticas que foram cientificamente testadas várias vezes e demonstraram que funcionaram. Por exemplo, um tratamento para o transtorno de pânico que foi aplicado por cientistas e mostrou repetidamente resultados válidos como eficazes como um tipo de tratamento, é considerado seguro e eficaz. Os terapeutas que usam tratamentos validados sabem que esses tratamentos foram cientificamente testados de maneira rigorosa e validados muitas vezes. Muitas desas abordagens estão indicadas aqui: https://www.div12.org/psychological-treatments/
Por outro lado, é importante verificar as qualificações de quem aborda temas da psicologia. Existem universidades para formar especialistas em cada área. Se precisar de um técnico para fazer um edifício vai contratar um Engenheiro civil ou um Psicólogo? E se precisar de ser operado ao coração, vai contatar um m´édico especialista ou um coach? Então quem é o especialista nos temas da Psicologia- a autoestima, a motivação, as emoções, o desenvolvimento pessoal e na resolução dos problemas psicógicos, quem será? Um Engenheiro de formação ou um psicólogo? Um grande palestrante , sem formação em psicologia ou um psicólogo? A escolha é sua.
Mas porque tantas pessoas seguem ou acreditam em teorias pseudocientíficas na Psicologia?
Por muitos motivos, mas alguns dos mais comuns são estes:
- Muitas pessoas fazem viezes ou distorções na forma de interpretar a realidade. Por exemplo, o viés de confirmação é extremamente comum e consiste em querer confirmar ou favorecer as crenças que já possui. Por exemplo, se já credita na PNL é provável de acreditar mais na informação que a promove, mesmo que existam muitas evidências que demonstram que a PNL não tenha qualquer base científica.
- Pode acreditar na chamada correlação ilusória. Se ler vários testemunhos sobre pessoas que afirmam obter resultados incríveis com a lei da atração (ou outras) , poderá começar a criar uma ilusão de que existe uma relação entre o acreditar muito numa coisa e obter resultados com esse pensamento positivo. O marketing quer convence-lo desta ilusão, mesmo que milhões de pessoas tenham sido prejudicadas com essa lei. Esta ilusão pode ser criada porque situações raras captam mais a atenção e o marketing descreve exemplos desse genero (Ex: consegui uma casa de 20 milhões pela lei da atração). Se viu uma pessoa que afirma obter resultados, pode criar esta ilusão, não tendo em conta as muitas pessoas que não obtiveram resultados (e que sentem vergonha de o dizer).
- A repetição da mentira torna as coisas mais “verdadeiras”. A repetição é que faz com as notícias falsas passem a ser acreditadas e depois compartilhadas. Se a informação parece familiar, logo ela parece mais verdadeira, mas continua a ser 100% falsa. Tendemos a acreditar na informação que é repetida várias vezes. Por exemplo, hoje em dia há milhões de pessoas que acreditam que a terra é plana ou que as vacinas não são seguras nem eficazes. Todavia, a organização mundial de saúde considera que não vacinar é “um grande problema de saúde pública e pode colocar em risco a vida de outras pessoas”.
- Efeito Dunning-Kruger: é o efeito de pessoas com baixa capacidade ou conhecimento numa tarefa, considerarem-se muito boas e melhores que os próprios especialistas. Ao demonstrarem uma confiança da sua capacidade para o público, podem convencer os outros das suas habilidades, mesmo não tendo formação para tal. Por exemplo, muitas pessoas sem formação em Psicologia (ou sem formação numa universidade) consideram-se “superiores” ou melhores que psicólogos com muita formação. Por isso poderá encontrar vários oradores que se julgam muito bom em temas psicológicos, mesmo sem possuirem habilitações para tal, mas com uma ilusão de competência que não lhes deixa reconhecer a sua baixa preparação.
Se ponderar o uso de serviços ou profissionais que afirmam ser capazes de ensinar a gestão das emoções, desenvolvimento pessoal, ultrapassar a depressão ou a melhorar a auto-estima, etc, poderá verificar a sua qualidade através de:
- Verifique se tem formação universitária na área da psicologia. Se partisse uma perna iria pedir ajuda a alguém não médico? Então se precisa de ajuda ou colaboração no desenvolvimento pessoal o técnico mais preparado é naturalmente o psicólogo!
- Verifique o site da Ordem dos Psicólogos : https://encontreumasaida.pt/
- Verifique e investigue a validade científica do programa , curso ou serviço que está a ponderar utilizar. Por exemplo, no site http://recursos.ordemdospsicologos.pt/repositorio pode encontrar pareceres sobre muitos temas como o coaching e a programação neurolinguística.
- Verifique os tratamentos psicológicos testados pela ciência psicológica em https://www.div12.org/psychological-treatments/
Para saber mais: